Sobre Suspeita e Culturas de Desconfiança

9-10 Maio - Anfiteatro da Parada, UBI 


Na contemporaneidade, a suspeita é um fenómeno social de crescente importância na afirmação de identidades, na reação à falência dos grandes sistemas ideológicos e na emergência de fenómenos sociopolíticos que põem em causa o equilíbrio e as singularidades socioculturais. É o caso da globalização, do neo-liberalismo, da implementação de moldes empresariais de racionalização do trabalho (automação e ‘flexibilidade’), do relativismo de valores, crenças e tabus sociais, sexuais e éticos, da crescente emergência de grupos de reivindicação, protesto e pressão (lobistas, associações feministas, ecologistas, skinheads, black panters, …), de fenómenos de migrações e da emergência de comunidades de refugiados.  

Enquanto prática, a suspeita tanto se encontra na ciência e na filosofia (a dúvida metódica; a recusa das aparências), como nas atividades mais comuns e rotineiras. Sob a forma da desconfiança, ei-la no diagnóstico clínico, na grande reportagem ou na investigação policial. Também desempenha um papel crucial na estigmatização social e nos exercícios dos poderes vigilantes do Estado. Do ponto de vista cultural, a suspeita é um fenómeno central na produção literária, artística ou cinematográfica. Como tema é o fundamento do romance ou do filme policial ou de mistério sobre as conjeturas e as teorias da conspiração. 

Se a suspeita é uma atividade que impregna os valores e as práticas das sociedades ocidentais, neste colóquio vão propor-se vários enfoques para a abordar: o das ciências da política, da ética, da estética, da semiótica, da psicoterapia, da antropologia forense, da investigação policial ou das ciências da arte e da cultura.

 

São várias as questões que se pretendem refletir: independentemente da heterogeneidade de práticas de suspeição, é possível pensar numa «teoria geral da suspeita»? Qual o parentesco entre suspeita e desconfiança? E a relação entre suspeita, vigilância e punição? Do ponto visto psicoterapêutico será possível estabelecer alguma relação entre suspeita e paranoia? Existe alguma ética e estética da suspeita? Qual a relação entre suspeita e teoria da conspiração? E o seu contributo em géneros cinematográficos como é o caso da novela/filme de mistério e o romance/filme policial? 


9 Maio 


14h00 

Abertura: Professor Paulo Moniz, Vice-reitor para a Área da Investigação; Professor Paulo Serra, Presidente da Faculdade de Artes e Letras  


14h30

Miguel Real (CLEPUL, U. de Lisboa): Suspeita – conceito filosófico contemporâneo

Francisco Moita Flores (escritor e ensaísta): De suspeito a arguido. A importância do cientismo na transformação da suspeita em prova judiciária


16h00

Pausa


16h15

Rayco Gonzalez (U. de Burgos, Espanha): Figuras de la sospecha en el tiempo presente

Eugénia Cunha (Universidade de Coimbra e Instituto Nacional de Medicina legal e Ciências Forenses): Casos forenses: onde com ou sem suspeita faz toda a diferença


17h15

Luís Nogueira (U. da Beira Interior): O diabo na máquina e os suspeitos do costume

José Carlos Gonçalves (Comando Distrital da GNR de Castelo Branco): A suspeita sempre persegue a consciência culpada; o ladrão vê um polícia em cada sombra


18h15

Pausa


18h30

Tito Cunha (U. da Beira Interior): «Él» de Luís Buñuel: a patologia da suspeita e o consequente delírio paranoide.

Apresentação de Filme: «Él» de Luís Buñuel, 1953


20h30

Jantar



10 Maio 


10h30

“Eu suspeito, tu suspeitas, nós…”

(Vox Populi: a suspeita e as gentes)

João Maurício Brás (U. Católica): Suspeita e desconfiança. A boa e a má desconfiança

Ana Morais Santos (U. da Beira Interior): Da ética sob suspeita à transfiguração da suspeita em ética: os códigos de conduta académica numa “cultura de fraude”

Eduardo Camilo (U. da Beira Interior): “Eu já sabia!”. Configurações da suspeita na textualidade das Teorias da ConspiraçãoBrigitte Detry (U. Nova de Lisboa): Formas patológicas de suspeita: a paranoia e a distorção da realidade


12h30

Almoço


14:30

Urbano Sidoncha (U. da Beira Interior): Cultura da Suspeita

Gabriel Magalhães (U. Beira Interior): A suspeita como crítica, controlo e conhecimento. Algumas reflexões sobre o fenómeno da suspeição no romance policial

José Rosa (U. Beira Interior): Sob o signo da (des)confiança

António Bento (U. da Beira Interior): «Das conjuras no pensamento político de Nicolau Maquiavel»


16:30

Conferência de Imprensa

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